“No dia 15 do corrente mês
chegaram a Vitória 14 famílias de colonos italianos, constituídas por 30
pessoas ao todo, entre as quais três senhoras gravemente doentes, e as outras
sofredoras febris pelas privações e fadigas sofridas.
Elas provinham do núcleo colonial Muniz
Freire situado no Rio Doce, que foi criado no final do ano passado
(1894) com aproximadamente 450 colonos italianos recrutados por conta deste
Estado através da companhia de navegação “La Veloce” em várias províncias e
especialmente na comune de Sannazzarode’Burgondi, que
contribuiu com 44 famílias.
Os sobreviventes contam que a sua
colônia (que lhes foi destinada depois que passaram dois meses num barracão
esperando que fosse feita a medição dos lotes) estava num lugar tão próximo do
rio e tão baixo que, com as primeiras chuvas, as águas a inundaram e invadiram
as barracas, mesmo construídas sobre palafitas com a altura de um metro do
chão.
Os colonos resolveram pedir, como
era de direito, para serem transferidos para outra colônia situada em melhor
condição. Não satisfizeram a este pedido; ao invés, disseram que os colonos
estavam desvinculados de qualquer contrato, mandaram o médico ir embora; e
deixaram vazio o depósito de mantimentos: assim que, nos últimos dez dias os
colonos sofreram fome e se sustentaram com um pouco de farinha e feijão
estragados misturados com alguma erva colhida.
Começou então o êxodo dos pobres
italianos: com seus poucos trastes se dirigiram às colônias de Alto Bérgamo,
Santa Cruz, Pau Gigante, Conde d’Eu, procurando os meios de viagem, vendendo,
pouco a pouco, a preço vil, os seus pertences.
Com estas palavras, o cônsul italiano
em Vitória, Dall’AsteBrandolini fazia o seu relatório mostrando o abandono em
que se encontravam os imigrantes, desta vez, pelo governo brasileiro. O
governador do já então estado republicano reagiu respondendo às nove razões
apresentadas pelo cônsul visitante Carlos Nagar: Devo reconhecer que há
fundamento nas três primeiras acusações, mas todas as outras não resistem à
mais ligeira análise. Acusações a mais ou acusações a menos, o fato era que “a
vaca tinha ido para o brejo” segundo um ditado popular brasileiro. Em bom
português dizia o decreto do rei italiano:
O Real Ministério do Interior,
informado de que no estado do Espírito Santo, quer pela maneira como está
regulamentado o serviço de imigração, quer pelas condições econômicas,
climatológicas e higiênicas da região, aqueles que para lá emigram vão de encontro
a danos e prejuízos certos e gravíssimos, decreta: Fica proibido até nova ordem
aos agentes e subagentes fazer operações de emigração pelo porto de Vitória e,
em geral, pelo estado do Espírito Santo.