Por parte da Itália, todos bem sabem,
uma palavra resume as razões da emigração: a miséria. O primeiro e mais
importante documento de identidade dos emigrados, o passaporte, quer em nome de
sua majestade Vítor Emanuel II, quer em nome de Umberto I, testemunha esta
condição. No lugar do selo, os passaportes trazem, com frequência, os seguintes
dizeres: “Senza marca per comprovatamiserabilità”. Ou “esente da bollo per
comprovatapovertà”. Noutros aparece simplesmente a palavra “gratis”. O passaporte
de Luigi Zuccolotto, natural de Lentiai&mdashBelluno, expedido em dezembro
de 1888, traz selo e carimbo, mas uma carta, 25 anos depois, em 6 de outubro de
1913, assinada por BasilioPiccolotto, diz ao filho de Luigi: “Chiedete a vostro
padre delviaggiochefece a Genova, ilquale non se decidevadipiùmontare in treno
a Milano se non ledavoio i bigliettiferroviari, perchèle mancava
ildenarodiprenderli (…) allorapotevo, mentreoggihobisognoio”. Miséria de uma
Itália que não existe mais, mas miséria declarada nos documentos pelos
respectivos administradores, miséria nos corpos doentes, mal alimentados,
cansados, forrados apenas de esperança.
Navio com italianos no porto de Santos (1907).
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