quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Núcleo Muniz Freire: centenário de um fracasso

              “No dia 15 do corrente mês chegaram a Vitória 14 famílias de colonos italianos, constituídas por 30 pessoas ao todo, entre as quais três senhoras gravemente doentes, e as outras sofredoras febris pelas privações e fadigas sofridas.
               Elas provinham do núcleo colonial Muniz Freire situado no Rio Doce, que foi criado no final do ano passado (1894) com aproximadamente 450 colonos italianos recrutados por conta deste Estado através da companhia de navegação “La Veloce” em várias províncias e especialmente na comune de Sannazzarode’Burgondi, que contribuiu com 44 famílias.
             Os sobreviventes contam que a sua colônia (que lhes foi destinada depois que passaram dois meses num barracão esperando que fosse feita a medição dos lotes) estava num lugar tão próximo do rio e tão baixo que, com as primeiras chuvas, as águas a inundaram e invadiram as barracas, mesmo construídas sobre palafitas com a altura de um metro do chão.
              Os colonos resolveram pedir, como era de direito, para serem transferidos para outra colônia situada em melhor condição. Não satisfizeram a este pedido; ao invés, disseram que os colonos estavam desvinculados de qualquer contrato, mandaram o médico ir embora; e deixaram vazio o depósito de mantimentos: assim que, nos últimos dez dias os colonos sofreram fome e se sustentaram com um pouco de farinha e feijão estragados misturados com alguma erva colhida.
Começou então o êxodo dos pobres italianos: com seus poucos trastes se dirigiram às colônias de Alto Bérgamo, Santa Cruz, Pau Gigante, Conde d’Eu, procurando os meios de viagem, vendendo, pouco a pouco, a preço vil, os seus pertences.
Com estas palavras, o cônsul italiano em Vitória, Dall’AsteBrandolini fazia o seu relatório mostrando o abandono em que se encontravam os imigrantes, desta vez, pelo governo brasileiro. O governador do já então estado republicano reagiu respondendo às nove razões apresentadas pelo cônsul visitante Carlos Nagar: Devo reconhecer que há fundamento nas três primeiras acusações, mas todas as outras não resistem à mais ligeira análise. Acusações a mais ou acusações a menos, o fato era que “a vaca tinha ido para o brejo” segundo um ditado popular brasileiro. Em bom português dizia o decreto do rei italiano:

O Real Ministério do Interior, informado de que no estado do Espírito Santo, quer pela maneira como está regulamentado o serviço de imigração, quer pelas condições econômicas, climatológicas e higiênicas da região, aqueles que para lá emigram vão de encontro a danos e prejuízos certos e gravíssimos, decreta: Fica proibido até nova ordem aos agentes e subagentes fazer operações de emigração pelo porto de Vitória e, em geral, pelo estado do Espírito Santo.

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